III - Amor Obscuro

– Ei pequena, como você tá? - David vem ao meu encontro, pega minhas coisas e coloca no capô do carro, me puxa para um abraço à lá David e me rodopia.

– Estou bem e você? - Respondo ainda nos braços dele - E será que dá pra você me colocar no chão? - Faço cara de brava, mas falho miseravelmente e caio na gargalhada.

Ele sorri e me da um beijão estalado na bochecha e me coloca no chão. Ruborizo e seu sorriso se abre mais. Ele abre a porta do carro para mim. Eu entro e me sento no banco do carona. Ele me passa minhas coisas e eu coloco no banco de trás do carro enquanto ele dá a volta, entra e se senta no banco do motorista e dá partida no carro.

– E aí Seleninha, que tal comemorarmos sua saída na loja? - Ele pergunta, sem tirar os olhos do trânsito.

Viro-me de frente para ele, sentando de lado no banco.

– Ah não sei não David, to mega cansada. Que tal amanhã depois que eu sair do meu turno da livraria? - Murmuro levantando minhas sobrancelhas em sugestão. Ele abre seu sorriso de latino saliente.

– Ok então. Mas o que faremos hoje então? - Ele pergunta.

– Ah que tal irmos para casa e ficarmos por lá mesmo hein? Mas, só ficaremos nós dois, pois Demi sairá com um carinha aí que ela ta conhecendo. - Digo e vejo um brilho se formar em seus olhos.

– Ta certo, vamos pedir pizza e ver alguns filmes, que tal ?

– Tá, mas filmes? - Digo fazendo beicinho e ele já saca o que eu quero dizer.

– Ah Selly, nem vem que não vou ficar vendo temporadas de Grey's Anatomy, vai. Coisa chata. Já vimos e revimos não sei quantas vezes esse seriado - Ele diz meio exasperado e sorrio.

Tadinho dos meus amigos tem que aguentar minha idolatria por seriados. Dessa vez vou dar uma trégua pra ele.

– Tá bom sem seriados, já entendi. - Digo me fazendo de magoada.

– Eu quis dizer SEM Grey's Anatomy. - Ele diz, dando ênfase no ''sem''. Faço cara feia para ele que sorri e logo emenda – Só estou corrigindo a senhorita. - Mostro a língua para ele e caímos na gargalhada.

– Tá então filmes né?! - Digo com um sorrisinho de inocente e ele parece que lê minha mente.

– Nem me venha com As Branquelas também viu dona Selena, já perdi a conta de quantas vezes já vimos. Minha cota de sorrisos para esse filme já acabou. - Ele diz e eu caio na gargalhada novamente.

– Ai David, como você é exagerado viu. - Digo revirando os olhos para ele.

– Ah agora eu que sou exagerado, você que quer ver um filme pela milésima vez e eu que sou exagerado né. - Ele olha para mim de relance e dá um sorriso amplo. Mostro a língua para ele, que estreia os olhos para mim.

– Você precisa para com isso, sabia? - Ele diz e me lembro de Demi me falando isso.

– Ah para né, você e Demi combinaram, só pode ser complô viu. - Digo fingindo estar brava e ele rir.

David estaciona o carro e faço menção de abrir a porta quando ele me impede, segurando minhas mãos.

– Não, espera aqui. - Ele diz e sai do carro, dá a volta e abre a porta pra mim. Sorrio com o gesto.

– Hum que galante. - Digo e ele abre um sorriso lindo. Ele pega minha cesta e eu a bolsa e seguimos para o apartamento.

Abro minha bolsa, pego as chaves, abro a porta e paro na soleira da porta fazendo menção para ele entrar. Ele fica parado diante de mim esperando que eu entre primeiro e eu reviro os olhos entrando em casa. Jogo-me no sofá e fecho meus olhos pensando no dia de hoje na loja, naquele homem, naqueles olhos Castanhos fulminantes. Sorrio com minhas lembranças e sou interrompida pela voz de David.

– Hum que sorriso sacana hein. - Ele diz e eu abro os olhos imediatamente. Vejo seu sorriso e ruborizo na hora. Ah David se você soubesse o porquê desse sorriso, não estaria com um na cara. Sorrio novamente com meu pensamento.

– Ah para de graça. - Mostro a língua e me levanto do sofá. - Ah vou tomar um banho e vai ligando aí pra pizzaria e pede a minha pizza preferida hein. - Digo, indo em direção ao meu quarto e paro. - Ah e pega os filmes, se quiser tem pipoca no armário. - Volto a andar para meu quarto e vou direto para o banheiro, trancando a porta.

Tiro meus sapatos e minha roupa e me enfio debaixo da ducha bem fria, esperando que ela apague aquele homem da minha mente. Sinto a água fria em meu corpo esperando que ela leve com ela a sensação que aqueles olhos Castanhos fazem em meu corpo. Me ensaboou e fico olhando a espuma ir embora com a água pelo ralo. Passo meu shampoo e condicionador de baunilha, sentindo o cheirinho delicioso que ficará em meu cabelo. Sorrio e saio do banho quando me sinto mais leve para enfrentar David. Me seco e visto um shortinho e uma blusinha básica. Calço meus chinelos e vou ao encontro de David.

Chegando na sala, David está esparramando no sofá de frente para televisão e trocando de canal sem paciência e para quando ele nota que estou olhando para ele. Ele me olha da cabeça aos pés e vejo um brilho diferente em seus olhos. Ruborizo e resolvo acabar com o clima constrangedor na sala.

– E aí já escolheu algum canal? - Digo me jogando no sofá ao lado dele, que continua a me olhar embasbacado.

Viro-me de frente para ele e o encaro de volta. Dessa vez não vou cortar o clima, vamos ver no que vai dá. -Isso mesmo Gomez, tá mais que na hora de dar uma chance à esse gato– Grita meu subconsciente. Até que dessa vez ele não foi tão cruel comigo, tenho que concordar com ele, David é um gato. -Não como o gostosão da loja– A peste da minha deusa interior resolve dar o ar da graça para me atormentar e sorri maliciosamente.

– Não, não escolhi . - A voz rouca de David me tira dos meus devaneios.

Continuo a encara-lo, sem saber o que dizer e graças a Deus sou salva pelo interfone tocando.

– Deve ser a pizza. - Diz David, pegando a carteira e caminhando ao interfone.

Vou direto a minha bolsa, pegando minha carteira rapidamente e sigo atrás de David.

– David não. Minha casa, minha dívida. - Digo, abrindo a carteira e ele cruza os braços me olhando de cara feia, assim que desliga o interfone.

– Eu pago. - Ele diz e eu reviro os olhos.

Vou em direção a porta com o dinheiro e ele tenta me deter mas é tarde demais. Pago o entregador e pego as pizza, colocando em cima da mesinha de centro da sala.

– Díos, Ana porque você tem que ser tão cabeça dura? - Ele diz me olhando sério.

– Não sou cabeça dura, só acho justo. - Dou de ombros.

– Acha justo pagar por tudo? - Ele cruza os braços me olhando fixamente.

– Não, só acho justo pagar a pizza, já que você irá pagar minhas bebidas amanhã. - Digo sorrindo, me aproximando dele e paro na sua frente para apertar suas bochechas, numa tentativa de quebrar o clima chato que se instalou entre nós e consigo. David abre um sorriso de canto, me olhando nos olhos.

– Você é demais, sabia? - Sussurra.

– Ahãm. - Digo mostrando a língua.

– Dizem que quem dá língua pede beijo, sabia ? - Ele diz com um sorrisinho safado.

– Não, disso eu não sabia. - Digo me fazendo de inocente.

– Tá, sei. Bora comer logo ou quer comer pizza fria? - Ele diz abrindo a embalagem da pizza, pegando um pedaço e em seguida come com vontade. Só fico observando e ele me olha interrogativamente. - Não vai comer não?

– Não to com muita fome. - Digo, dando de ombros.

– Ah, mas só pode ser uma alienígena na minha frente. Cadê minha parceira de comida? - Ele fala de boca cheia. Sorrio, pego um pedaço de pizza e abocanhando-o com vontade.

– Quanta deselegância falar de boca cheia. - Digo em falsa reprovação, com a boca cheia.

– Ah essa sim é minha Selly. - Ele diz olhando em meus olhos e só sorrio.

– E os filmes? - Pergunto tentando mudar de assunto. -Se continuar desse jeito, vai continuar a ver navios, pare de cortar o clima Gomez– Grita meu subconsciente.

– Ah, escolhi esse daqui, ''O Massacre da Serra Elétrica 3D - A Lenda Continua''– Ele levanta a capa do dvd para mim e bato palminhas em aprovação.

Pego o filme da mão dele e coloco para rodar. Volto e sento ao lado dele no sofá, pegando outro pedaço de pizza. E o filme começa e mal presto atenção, estou tão nervosa. Tenho que parar de cortar o clima. Preciso me relacionar com alguém e esquecer o passado. Preciso perder o medo de ir para a cama com um homem. Brad meu ex-namorado, tentou varias vezes me levar para a cama e não conseguiu, sempre arrumava uma desculpa toda a vez que ficávamos em um quarto a sós. Graças a Deus foram poucas vezes, já que a maior parte do tempo passava em um barzinho em Portland.

Todos na universidade se encontravam nesse bar e foi lá que comecei a namorar Brad. Não foi um namoro longo, já que estava perto na graduação. Depois disso Demi e eu nos mudamos para Seattle e tive que terminar com Brad. Não doeu muito, já que nunca fui de morrer de amores por Brad. Gostava de suas carícias, mas ele também não era flor que se cheire, para me entregar completamente à ele. Vivia cercado de garotas, principalmente as populares, que me odiavam. Com certeza Brad tinha com elas o que eu não tinha com ele. Mas como não tenho provas, só fico na especulação mesmo.

Mas aqui estou eu, ao lado de um homem lindo e saliente, querendo de uma vez por todas esquecer o passado e tentando me entregar de corpo e alma, mas não consigo mover um dedo. Será que nunca vou conseguir me entregar a alguém de corpo e alma?

– Não gostou do filme pequena? - David diz me tirando dos meus pensamentos.

– Gostei sim. - Digo e ele só me observa. - O que foi? - Pergunto, olhando pra ele.

– Nada. - Ele diz apenas e continua a me observar fixamente.

– Claro que não é nada. Diz logo David? - Pergunto novamente impaciente com seu olhar.

– Quer saber mesmo? - Ele sussurra.

– Claro. - Digo

Logo sinto-me corpo deitado no sofá e David em cima de mim, me pressionando contra o sofá. Arregalo os olhos com o susto e ele ignora totalmente minha reação e encosta seus lábios nos meus. Logo sua língua pede passagem iniciando um beijo quente e lento. Levo minhas mãos em sua nuca, passando os dedos pelo seus cabelos, cedendo ao beijo que David me da. Ele para o beijo com selinhos e desce com sua boca pelo meu queixo até chegar em meu pescoço e me dá vários chupões, não muito forte para o caso de ficar marcas, mas mesmo assim me dá chupões e eu estava gostando.

Sinto David enfiar suas mãos por baixo de minha blusa e acariciar minha pele. Sua mão chega até meus seios e os apertam me fazendo soltar um suspiro e fecho meus olhos. Mordo meus lábios quando e minha mente me veio um par de olhos Castanhos me fulminando e um sorriso sexy de dentes branquinhos. Senti meu sangue esquentar conforme aqueles olhos me encaravam e não aguentei mais e soltei um suspiro sofrido.

– Ai Nicholas. - Sussurro e sorrio com a sensação que se formava no meu corpo.

– O que foi que você disse? - Abro meus olhos e vi David me encarando furioso.

– Nada, não disse nada. - Respondo com a voz rouca de desejo e logo pigarreei.

– Quem é Nicholas? - David me fuzilava com os olhos.

O empurrei, me sentando no sofá. Encarei-o sentando nos joelhos em cima do sofá.

– Que Nicholas? - Respondo me fazendo de desentendida.

– Oras você que tem que me dizer você quem disse esse nome. - Ele respondeu nervoso.

Quando ia responde algo, Demi apareceu do nada, chorando e eu agradeci mentalmente a Deus por isso. Não por minha amiga está chorando, mas por ter que sair dessa saia hiper justa, mais tão justa que se tentar abaixar ela rasga ao meio.

– Selly, você não sabe.. - Ela diz, se jogando no sofá e deitando com a cabeça no meu colo.

Acaricio seus cabelos e olho para David que à essa altura está de pé, colocando seus sapatos.

Só o observo. Ele me olha magoado e isso me parte o coração. Dá um beijo no rosto de Demi, que está alheia ao que aconteceu e se vira para mim. Encara-me por um instante e logo se despede.

– Até mais Selena. - Ele se vira e vai embora, sem me dar o típico beijo no rosto.

Ele nunca me chama de Selena. Com certeza a coisa está feia pro meu lado. Valeu mesmo Nicholas Jonas. Até em pensamento você me complica.

Volto minha atenção para Demi, que chora copiosamente.

– Demi o que houve? - Pergunto preocupada.

Ela levanta a cabeça e me olha com os olhos vermelhos de tanto chorar.

– Ai Selly, aquele canalha do Tony ficou com outra. Você acredita?! - Arregalo os olhos.

– Como assim ficou com outra? Explica isso direito. - Digo.

– Ah nós estávamos na balada nos divertindo bastante e daí eu fui ao banheiro e quando voltei ele estava beijando outra. E pios, ele estava beijando a amante dele. Ele estava saindo com nós duas ao mesmo tempo. - Ela diz com amargura e eu fico horrorizada.

– Que babaca. - É a única coisa que sai da minha boca.

Depois de duas horas ouvindo Demi e seus lamentos, coloco ela na cama e vou para o meu quarto dormir. Olho no relógio que marca 3:30 da manhã e pulo em cima da cama. Terei um longo dia na livraria e cheia de olheiras pelo visto. Rolo na cama pensando em tudo o que aconteceu hoje e me sinto mal. Minha tentativa de me entregar à alguém foi pro ralo e ainda magoei um amigo. Deixo minhas lágrimas fluírem, até cair em um sono perturbador.

Comentem

Creditos Angel